A NOSSA PROFISSÃO TEM DE SER MAIS COMPREENDIDA
Já alguma vez te sentiste desvalorizado/a?
Hoje quis abordar um assunto que sinto que não é muito falado, ou pelo menos a nível de pesquisa não é facilmente encontrado, mas que deve ser partilhado devido à sua relevância.
Eu já senti, e sinto diversas vezes, que não respeitam aquilo que decidi escolher enquanto profissão/ ofício, ou o que queiram chamar, neste caso professora de dança.
Talvez por ser algo mais ligado ao mundo das artes, mas ser artista não é uma profissão? Porquê que ser professora de dança é uma brincadeira? Porque fazemos aquilo que gostamos?!
Talvez por falta de informação, somos classificados como um hobby e somos considerados por muitos uma alternativa, pois bem, eu escolhi ser professora de dança a tempo inteiro. Apesar de ter estudado para a vertente de Educação Física, não foi esse o caminho que quis enveredar, mas se foi fácil tomar essa decisão? Não, não foi, e muitas dessas indecisões originadas por preconceitos sem argumentos complicaram a minha escolha, e tudo devido à ausência de compreensão “O quê? Estás louca? Então estudas-te para uma coisa durante tantos anos e agora decides ser outra?” “Mas isso não é um trabalho, é um part-time”
Durante algum tempo senti necessidade de justificar o porquê da minha escolha, hoje não o faço. Foi e é um caminho árduo e longo, mas não me vejo a fazer mais nada! Amo aquilo que faço! Aliás, não se consegue ensinar dança quando não se sente essa paixão. Contudo, confesso que já tive de omitir que sou professora de dança para me facilitar a vida, para me levarem a sério: “E qual é a sua profissão? Professora.” Senti que se dissesse “professora de dança” iriam desdenhar.
Muitas vezes a própria família não entende: “mas estás sempre a ouvir música, a coreografar, em formação… mas o que é que fazes tanto tempo agarrada ao computador?” Às vezes as pessoas de quem necessitamos de mais apoio são os primeiros a não perceber o nosso estilo de vida, a nossa opção… E sem se aperceberem acabam por nos desrespeitar e indiretamente fazem-nos sentir que a nossa profissão não é levada tão a sério como qualquer outra.
Na dança não podemos parar, temos de estar em constante formação e atualização! Não temos horários definidos, apenas para darmos aulas. Se existem dúvidas sobre onde uma professora de dança gasta o seu tempo, então basta perceber o que a nossa profissão envolve, principalmente se dermos aulas a diversos escalões ou classes etárias.
Já vivenciaram esta sensação em algum momento da vossa vida?
Poucas coisas são tão dolorosas como nos sentirmos desvalorizados. O ser humano precisa de se sentir parte de algo, ou de alguém. Como criaturas sociais (e emocionais) que somos, a validação e o reconhecimento é um nutriente essencial. A razão pela qual tendemos a sentir-nos subestimados pelos outros quase sempre faz parte do cérebro. Somos “programados”, por assim dizer, para nos compararmos socialmente com aqueles que nos rodeiam em quase todos os momentos. Desta forma, gestos como gentileza, uma palavra de reconhecimento ou atos cotidianos de carinho são injeções de dopamina capazes de nos reforçar e de nos fazer ver que tudo está a ir no caminho certo. Se isso falta consecutivamente, surge o medo e até mesmo o sofrimento. O ser humano gosta e precisa de ser respeitado. O respeito, além de ser considerado uma valiosa virtude, é essencial. Por natureza, o respeito está atrelado ao comportamento e à atitude. É preciso aprender a respeitar-se a si próprio, para depois aprender a respeitar o próximo. Quem não se respeita acaba por possuir uma grande dificuldade em respeitar o outro.
“O trabalhador tem mais necessidade de respeito que de pão.” (Karl Max)
Tixa Galvão

